terça-feira, 12 de maio de 2009

Gente (a)normal

Depois de ter avançado na escola mais um pouco do relatório do estágio que tenho a fazer, fui à zona do Campo Pequeno. O intuito era buscar o presente de baptizado dos tios para o Tomás que está esgotado à largas semanas na Toys'r'us e que, depois de muita procura, conseguimos encontrar numa loja do centro comercial Via Veneto, mesmo em frente à sede da CGD.
Entro na loja e está uma senhora a ser atendida, um homem em pé deambula pela loja, brincando com um miúdo de 5 anos, enquanto outro aguarda pela sua vez sentado numa cadeira com a perna cruzada "à mulher". A senhora acaba de ser atendida, e o homem, sem se levantar da cadeira pergunta à mulher se tem a cadeira "tal tal":
- Olhe, essa cadeira...só lá para dia 18...
- 18 de... Maio?! Sabe que está a dar-me uma notícia terrivelmente má, eu precisava dela para depois de amanhã.
- Está esgotada, ainda por cima agora eles tão com uma promoção em que na compra da cadeira oferecem um spa no valor de 49,90 e é por isso..., mas eu vou ligar na mesma a ver se consigo tê-la mais cedo.
Agarram os dois no telefone. A empregada liga para o fornecedor, o cliente ainda sentado, liga para o amigo, para o qual era a cadeira.
- Olha, a cadeira esgotou e só está disponível dia 18, por isso não sei como queres fazer. Dizem que oferecem um spa, e é por isso que está esgotada.
- O fornecedor diz que afinal consegue trazer-me na sexta-feira, pode ser?
Segue-se então uma comunicação intertelefones: o fornecedor a certificar-se da disponibilidade do artigo e o cliente com toda a calma do mundo a transmitir em simultâneo o que estava a ouvir, com tempo ainda para falar do cartão da conta do Milenium que tinha ficado retido numa caixa de multibanco... Tudo com muita calma, e muita classe.
- Olhe, o meu amigo diz que pode ficar então para sexta-feira e a cor é framboesa. Deixo-lhe o meu nome e o meu contacto... - chamando o amigo com gestos, o qual já estava do lado de fora da loja.
- Epá, não tens aí 20 euros para me emprestar?! Depois dou-te... Nunca dou nada ao miúdo, vou-lhe levar isto hoje.
"Isto" era uma caixa que tinha no interior daquelas garagens com vários andares por onde os carros circulam, para as crianças brincarem como verdadeiros mecânicos.
- Para não ir daqui sem nada já que não levo a cadeira, vou levar esta caixa.
- Muito bem, deixe-me então por aqui um pouco de fita-cola para ser mais fácil o senhor agarrar - diz a empregada.
Enquanto isso, o pai exibia um pouco da sua fútil paternidade:
- Guilherme, diz lá agora quem é que é o melhor pai do mundo?
- Tu - disse a criança.
O homem dá-lhe os 20 euros para a mão e pegando na caixa para arrancar, ouve a mulher dizer com um ar meio sem jeito:
- Desculpe mas ainda falta dinheiro... pensava que estava a pedir ao seu amigo para completar com o seu dinheiro...
- Não é 9,90?
- Não, veja lá onde viu o preço...
Virando a caixa, a etiqueta não marcava 9,90 mas sim 99,90. A criança, que momentos antes ficara eufórica com o presente que ia receber, lançou-se de imediato à cadeira e começou timidamente a chorar.
- 100 euros é muito filho, o pai depois compra-te outra coisa... 100 euros por este jogo?
- Sim, é um brinquedo de madeira, feito à mão mas muito bonito, daí o preço ser mais elevado- retorquiu a empregada.
- Leva lá o brinquedo ao miúdo, se precisares de mais dinheiro eu empresto-te. - disse o amigo.
- Pronto, levo, se já o prometi tenho que o levar. Vá Gulherme, não chores mais que o pai vai-te comprar o brinquedo. Só que agora já não basta dizeres que o pai é o melhor do mudo, tens que o escrever que é para ficar para a posteridade.
- Então o senhor passe cá na sexta-feira que tem a sua cadeira...
- Ok. Quer dizer, sexta-feira não estou cá, vou estar a viajar. Vamos a Barcelona mas na segunda passo por cá.

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