terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

142, muito mais que uma carreira

Se há coisa que um estudante gosta no caminho entre a sua casa e a escola, é do prazer que dá andar na 142 da Vimeca.
De manhã bem cedo, aqueles vidros completamente embaciados, o cheirinho característico a mofo e a naftalina dos velhotes reformados que dia sim-dia sim, põem-se a caminho do mercado de Benfica e arredores. Parece pouco, mas quando a isto se junta aquelas discussões que, por algumas vezes, leva chapadas e insultos pelo meio, percebemos que o interior daquele autocarro consegue ser um "meio social" bastante sensível.
Como vêem, essa carreira é muito fértil em episódios, no mínimo, caricatos. Depois há aquelas vezes em que o Rui decide "inovar" e em vez de se sentar do meio do autocarro em diante, pensa assim: "Bem, ainda é cedo..não deve andar muita gente de autocarro...fico já aqui nos primeiros lugares..." ERRAAAAADO!
- Muito boa tarde, senhor motorista! Aqui tem o meu passe, faça favor! Muito obrigado, sim?!... Bem, vou-me já sentar aqui ao pé deste jovem (eu).
- Faça favor...- disse-lhe eu.
- Ai, graças a Deus, consegui apanhar esta. Ainda podia ter dado uma corridinha, mas a minha perna já não me deixa...parece que temos aí chuvinha, graças a Deus temos tido muita águinha! - continuou ela.
Mais atrás, um homem que já meu conhecido (de vista),e que é o rei da impaciência, sempre a mandar bitaites em alto e bom som sobre o que se passa no autocarro: "Bolas, só se pode descer a partir das Portas e já estão a carregar, estão com pressa....", "não sabem trazer dinheiro destrocado, só empatam a vida das pessoas!" ou ainda "esta (carreira) já está a vir atrasada!".
Bom, voltando à minha amiga do lado. Umas paragens à frente, abre-se a porta e uma (outra!) velhota pergunta ao motorista:
- Olhe, esta passa nos Correios?
- Olhe minha senhora, não sei...sei que vai para o Dolce Vita, serve?
Sem dizer se seve ou não, a velhota entra e entra em acção...a minha companheira:
- Olhe minha senhora, queria ir aos Correios era?!
- Sim, tenho o telefone para pagar...
- Ah, então minha senhora, tinha ali atrás um quiosque aonde podia ter feito isso, coitadinha...olhe se quiser saia na minha paragem que ao pé da minha casa há lá um sítio onde pode pagar isso!
A velhota saiu na paragem imediatamente a seguir e a minha companheira remata dizendo:
- Coitadinha da senhora, pois agora secalhar fica embaraçada ali na paragem sem saber o que fazer!

P.S - Eu sei que isto relatado em texto não tem tanta vivacidade, nem transmite aquilo que realmente acontece com autenticidade. Fica o esforço, ainda asism.

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